Preciso deixar claro que este texto não foi escrito por mim, mas faço minha as palavras desse professor, cujo o nome eu não sei!
É com extremo pesar que nós, professores do Centro de Educação Tecnológica Paula Souza - CEETEPS, vimos a público anunciar a decadência de uma instituição que tinha tudo para tornar-se um modelo de excelência na área do ensino técnico, mas que, por uma visão imediatista e egoísta de seus gestores, está caindo na vala comum da indústria da falsa educação.
A greve que fizemos de 13 de maio até 14 de junho, na esperança de que a administração prestasse atenção naquilo que estava acontecendo com suas unidades, seus professores e funcionários, teve alguns efeitos, como é possível constatar no site do SINTEPS – sindicato que nos representa – e nas publicações do Diário Oficial, mas apesar desses pequenos avanços financeiros, nos fez constatar fatos aterradores em relação ao SISTEMA EDUCACIONAL de nosso estado de São Paulo, constatações que enumeramos a seguir:
1- O governador Geraldo Alckmin, no dia 12 de maio, declarou que liberaria um aumento de 11% para a categoria. Essa determinação foi enviada para a assembleia Legislativa somente em 11 de agosto, ontem, três longos meses após a promessa. Nós já repusemos todas as aulas do período de paralisação, já “pagamos tudo o que devíamos” e o governo que deveria nos acolher ainda não fez nada, tudo ainda está no papel e sem votação.
2- Fomos acusados de dinheiristas e disseram para pais e alunos que estes não se formariam, não poderiam tirar o diploma por nossa causa. Pois bem: já cumprimos nossa meta, o futuro dos alunos está garantido. E o nosso? Quando nos formamos, não fizemos nenhum voto de pobreza, no entanto, espera-se que o professor não tenha necessidades e trabalhe por puro idealismo e devoção.
3- Enquanto trabalhávamos nas férias para recuperar as aulas perdidas pelos alunos e dávamos um voto de confiança à superintendente do CEETEPS, sra. Laura Laganá, e ao secretário da gestão e tecnologia, sr. Julio Semeghini, eles aprovaram um aumento de 74,68% para eles mesmos. O texto dos nossos 11% não havia sido redigido e nem havia possibilidade de votação, pois os deputados da Assembleia Legislativa de São Paulo estavam em recesso de 30 dias. Portanto, se tivéssemos esperado algum resultado concreto para retornar às aulas, ainda estaríamos em greve e os alunos ao Deus dará! Portanto, não são os professores que “empatam” a vida da população.
4- “Nossa dor é perceber” a verdade das verdades: a instituição não tem a menor consideração com professores e funcionários. Não há interesse em investir nas pessoas que trabalham e que fazem a instituição funcionar. Para cada uma das propostas e sugestões que fazemos, a cúpula arranja uma maneira de retardar a discussão e distribuir dinheiro para quem lhes interessa: para desenhar nosso plano de carreira e possíveis modificações salariais foi contratada uma empresa terceirizada, que deve ter levado uma boa quantia para isso. Ora, não há pessoas que entendam de contabilidade e administração do próprio Centro para fazer esses cálculos?
5- A legislação trabalhista que deveria nos socorrer, já se inicia com uma grande piada que é o salário mínimo, que deveria cobrir gastos com alimentação, vestuário, educação, lazer etc... Pois bem, estamos sem saída: há um artigo da constituição que diz que o professor não pode trabalhar mais de 4 horas seguidas sem um intervalo e nem dar mais de 6 aulas por dia intercaladas. Ganhando R$10,00 ou mesmo R$18,00 que sejam, se trabalharmos 6 horas por dia somente teremos o salário equivalente ao de uma faxineira, que merece mais até do que ganha, mas ela não leva serviço para casa, almoça no emprego e não tem desconto de Imposto de Renda... isto não é cruel? Se seguimos a lei, morremos de fome; se ultrapassamos a carga horária, contrariamos a lei; a instituição não permite que o professor ultrapasse o limite de 36 aulas semanais e portanto o salário também fica limitado a essa quantia para o resto da vida; professores que trabalham em várias escolas para compor uma melhor remuneração, não aguentam muito tempo, a saúde fica prejudicada pelas 10 ou 15 horas diárias em pé, falando, atendendo em média 40 alunos a cada 50 minutos e engolindo pó de giz.
6- Após os 3 meses de espera, o plano de carreira proposto pela tal empresa terceirizada valoriza tudo o que o professor faz fora da sala de aula: cursos, palestras, publicações etc., o que acontece dentro da sala de aula não interessa nem conta pontos. Se ficarmos dentro da sala de aula não conseguiremos evoluir.
7- Para que o professor evolua por mérito, ele deverá ser avaliado em diversos itens: pelos alunos, pelos colegas de profissão, pelo superior imediato, fazer prova de conhecimentos, apresentar títulos e, se for agraciado, terá um aumento de R$2,00 em sua hora aula!!!!!! Não parece que o Centro faz um enorme favor em nos contratar para que participemos dessa nobilíssima entidade? Nem na SORBONE!!!
8- Nosso sindicato é fraco, todos dizem, mas só uma minoria comparece às reuniões e dá força na hora da greve. Uns por absoluta covardia, a maioria porque sabe que nem professores nem alunos fazem a menor diferença para o CEETEPS. Este só quer saber de números: quantidade de cabeças que entram, quantidade de cabeças que saem. Podemos fazer até greve de fome que ninguém vai se sensibilizar com isso, contratarão um profissional mais barato.
9- Portanto, aos jovens que pretendem ingressar no Centro, prestem bem atenção: não há carreira dentro dessa instituição. Não há interesse em preservar os professores. É bom que cada um fique no máximo dois anos e depois vá embora para não ter direito a salário decente, nem criar vínculos com a escola ou com os alunos.
10- Alguns gestores e a superintendente estão prestes a se aposentar, portanto eles não estão nem um pouco interessados em nosso destino, em nossas necessidades, em nossa mágoa de ver algo que tratamos com tanto carinho não dar em nada. A visão imediatista impede que uma ideia muito boa dê frutos.
11- Isso tudo acontece em absoluto silêncio. Os meios de comunicação noticiaram a marcha das vadias, a marcha da maconha, a marcha contra a usina de Belo Monte, mas só citaram nossa passeata na Av. Paulista, que mobilizou profissionais de todo o estado e tinha por volta de 2000 pessoas. Não parece que há algo de errado nisso? Não vivemos em uma democracia? Somos tão insignificantes assim? Onde está a oposição?
12- Na pauta de reivindicações do nosso sindicato estão questões de saúde, vale alimentação, cesta básica e outros itens que, na verdade, não seriam necessários se o salário fosse decente.
13- NENHUM SER HUMANO VIVE SEM SONHOS OU SEM ALGUMA PERSPECTIVA OU SEM ESPERANÇAS. Aqueles que já desistiram de lutar ou talvez tenham esgotado suas forças sem retorno, são pessoas amargas, sem entusiasmo, que só esperam se aposentar pois sabem que o tempo passou e que não lhes resta outra alternativa. Essas pessoas são produtos desse sistema e, mesmo sem querer, são nocivas à instituição, pois se não têm mais força para lutar, também não têm mais energia para transmitir aos alunos, aos colegas, às unidades. Isso corrói as entranhas do Centro.
14- A categoria dos profissionais da educação é desunida, é uma outra verdade. Tanto que há várias instituições distintas para representar cada facção: SINTEPS – Sindicato dos Trabalhadores do Centro Paula Souza; SINPRO – Sindicato dos Professores das Escolas Particulares; APEOESP – Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo etc. Assim como há o Sindicato dos Comerciantes de Coco Verde, deve haver o Sindicato dos Comerciantes de Coco Maduro e o Sindicato dos Plantadores do Coqueiro, portanto as coisas funcionam assim, “cada um no seu quadrado”!
15- O que é preciso acontecer para que a população fique indignada? Todos os dias há um esquema de corrupção sendo denunciado e o povo... Nada. Aquela professora de Natal, Amanda Gurgel, que jogou a toalha e revelou os problemas da educação em seu estado... O público aplaudiu, elogiou, divulgou e a população que usa o tal sistema de educação... Nada. Fizemos nossa greve, os alunos nos apoiaram, alguns pais também. Outros foram às escolas brigar com os diretores para que eles resolvessem a situação logo. Os diretores das unidades também são funcionários como nós, não são eles que decidem os salários, eles estão EM UM CARGO DE CONFIANÇA E COMO TAL, PODEM PERDÊ-LO A QUALQUER MOMENTO, se caírem na desconfiança.
16- O Centro Paula Souza é somente o reflexo do que acontece todos os dias debaixo de nosso nariz. A culpa é do sistema e está tão arraigado que não sabemos nem por onde começar.
17- Parece que a nossa ficha caiu! Entendemos a mensagem! No final das contas, cada coisa é mesmo como parece e não vai mudar, não temos como mudar o sistema, mas podemos incomodá-lo bastante.
“Toda história tem um começo, um meio e um fim, não necessariamente nesta ordem...”
(Jean Luc Godard)
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
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